História de Marçal de Souza

Ele nasceu na véspera do Natal de 1920, em Rincão do Júlio, na região de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul. Foi assassinado com cinco tiros, na noite de 25 de novembro de 1983, dias depois de recusar a proposta de um fazendeiro que lhe oferecera polpuda quantia para que convencesse os kaiowá a sairem da aldeia de Pirakuá, em Bela Vista (MS), para reservas já demarcadas pelo governo. Tupã-Y (Deus pequeno, em guarani), como era chamado pelo seu povo, recusou a oferta e foi ameaçado pelo fazendeiro. O crime teve repercussão internacional. O Governo de Mato Grosso do Sul chegou a divulgar nota na qual acusava um índio de ser o assassino. Mas as investigações apontavam para o fazendeiro como mandante do crime. Acusado, ele foi considerado inocente em dois julgamentos. Logo depois da morte do cacique, houve aumento considerável no número de suicídios de índios guaranis. No ano passado, decorridos 20 anos do assassinato, o crime foi prescrito. E os culpados não podem mais ser julgados. Marçal de Souza tinha 63 anos, quando morreu ao lado de sua mulher, a índia Celina Vilhava, de 27 anos, que estava grávida de nove meses.
Órfão aos oito anos, Tupã-Y foi educado numa missão presbiteriana. Morou com a família de um oficial do Exército em Recife, onde estudou até a segunda série do antigo ginasial. Adulto, voltou para Ponta Porã e, na década de 40, novamente abraçou sua cultura de origem ao se tornar guia e intérprete dos antropólogos Darcy Ribeiro e Egon Shaden. Na aldeia onde morava Marçal era enfermeiro do posto da FUNAI. Sua luta constante pela demarcação das terras indígenasincomodava fazendeiros e madeireiros. Até o encontro com o papa, em 1980, Marçal era um índio desconhecido.
Ganhou projeção internacional quando denunciou ao papa as agressões dos brancos contra os índios e reclamou da perda dos direitos indígenas ao longo da história “Este é o país que nos foi tomado. Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto não, Santo Padre. O Brasil foi invadido e tomado dos indígenas. Esta é a verdadeira história de nosso povo, Santo Padre. Eu deixo aqui o meu apelo, apelo de 20 mil índios que habitam, lutam pela sua sobrevivência, nesse País tão grande e tão pequeno para nós”.
Depois que Marçal foi assassinado, Darcy Ribeiro chamou o seu amigo de brilhante intelectual guarani, num discurso que fez em sua homenagem, no Senado.
Uma das frases de Tupã-Y que guardo desde então: “Não queremos emancipação, nem integração. Queremos o nosso direito de viver. Jamais o branco compreenderá o índio. Queremos ser um povo livre como antigamente. O índio está cercado, amordaçado por uma democracia que não funciona. Por isso nós vamos a campo”.
Uma das frases de Tupã-Y que guardo desde então: “Não queremos emancipação, nem integração. Queremos o nosso direito de viver. Jamais o branco compreenderá o índio. Queremos ser um povo livre como antigamente. O índio está cercado, amordaçado por uma democracia que não funciona. Por isso nós vamos a campo”.
Confira o que dizia e questionava Marçal Tupã-Y:
“O verde de nossa bandeira que os brasileiros carregavam representava a mata que a civilização nos tirou. Vivemos nas terras do governo como párias, esmagados sempre. O amarelo que representa a riqueza do Brasil, a pesca, a caça, hoje estão ausentes de nossas terras. Tiraram-nos tudo em nome da civilização. O branco, que simbolizava a paz tão desejada, hoje está ausente do homem. E finalmente, o azul, que representava o céu, na sua beleza florida – estrelas e astros a brilhar -, foi a única coisa que a civilização deixou ao índio e isso porque ela não pôde conquistar ainda.”
“Vivemos em terras invadidas, intrusadas. Nossas leis são feitas por pessoal lá de cima, que dizem que nós temos direitos. Nós temos direito no papel, mas onde está na realidade?”
“Somos uma nação subjugada pelos potentes, uma nação espoliada, uma nação que está morrendo aos poucos sem encontrar o caminho, porque aqueles que nos tomaram este chão não têm dado condições para a nossa sobrevivência.”
“Além de sermos os donos primitivos e legítimos dessa terra, temos a lei feita pelos brancos para nos proteger. Mas essa lei não está funcionando. É isso que temos que cobrar do governo que nos deixou no abandono. A lei maior é a natureza… Infelizmente, a lei da natureza é desrespeitada pela lei dos homens.”
Fonte:
Livro 100 Brasileiros (2004)
CONTATOS:
ESCOLA MARÇAL DE SOUZA TUPÃ Y
RUA: LUIZ DE VASCONCELOS,200-JD. LOSANGELES
CEP:79073238 FONE:3314-5638/3314-5639
Nenhum comentário:
Postar um comentário